Este blog tem por finalidade, homenagear consagrados poetas e escritores e, os notáveis poetas da internet.
A todos nosso carinho e admiração.

Clube de Poetas









domingo, 4 de maio de 2014

A. B. MENDES CADAXA







A. B. Mendes Cadaxa
(1917 - 2011)

Armindo Branco Mendes Cadaxa nasceu na cidade de São Paulo. Poeta e diplomata de carreira, serviu consulados e embaixadas na Argentina, Estados Unidos, Haiti, Itália, Jamaica, Polônia, Alemanha, Suiça, Trinidad, União Sobiética e Uruguai, o que lhe deu formação cosmopolita.
Escreveu poesias em português e inglês, publicou vários livros, em destaque  "Earthquare at Delphi"  (1966), "Elegis from the Lesser Sierras"  (1976), "Teu corpo é ouro só"  (1985), "Escadaria de Jade"  (1998), "Canto & Cor"(2004).
Fez parte do corpo de editores da revista inglesa de poesia "Envoi" por quase três décadas. É autor de obra vastíssima, inclusive peças teatrais em versos sobre temas históricos, nas quais exibe erudição e domínio das técnicas da poesia lírica e épica, como nas obras "Donina"  e " Dom Pedro e Isolda". Também escreveu romances de cordel em belíssimo estilo clássico.




           




Na acepção de João Cabral de Melo Neto, "Cadaxa traz um rítmo novo, há na linguagem algo ainda não tentado na língua portuguêsa". 
Sua excepcional inventividade aparece ao longo poema "Sombras", no qual Antonio Houaiss, autor do prefácio, aponta: " voz antiga e semântica (se a houver)".
A. B. Mendes Cadaxa, como é mais conhecido, ganhou diversos prêmios literários, entre os quais, o Prêmio Nacional de Poesia, do PEN Clube do Brasil, em 1997. Nesse mesmo ano recebeu o Prêmio Jabuti e, em 1999, ganhou a Medalha Paulo Rónai, pela União Brasileira de escritores, em virtude do livro "Escadaria de Jade", poemas traduzidos do chinês para o português.

 

 Em 2000, recebeu o Prêmio Jorge de Lima, da Academia Carioca de Letras. Pela peça  "A Rainha Implacável" , recebeu da União Brasileira de Escritores o Prêmio Guilherme de Figueiredo, em 2003. Seu estilo de escrever poesias conquistou aplausos de críticos, como Antônio Houaiss, Ivan Junqueira, Wilson Martins, Mauro Lucchesi, Fernando Py, entre outros.
Suas poesias são consideradas vindas de uma imaginação fértil, inesgotável e, com as sutilezas de suas mensagens, poderia ser cognomidado poeta hermético. Mas não o era. O que ele não fazia do poema fácil ou brincalhão. Homem de uma sinceridade a toda prova, escrevia o que sentia, com a influência do que ouviu e leu, como mostra sua vida bastante movimentada de diplomata.

VIAJANDO

Sol entre nuvens
Bom tempo para os navegantes.
Vou pela areia,
Chego no laguinho
Esquecido no final da praia
Ao retirar-se a maré vazante.
Mesmo pisando de mansinho
Assusto peixelins
A preamar ansiosos aguardando.
Trato de não perturbar festins
Gaivotas, siris
Se branqueando.
Cansado de vagar sobre os abismos
Embarco em uma nuvem
Refletida lá no fundo
Para uma viagem sideral
Impelido pelo vento.

CHEGA DE FALAR EM FLORES

Chega de falar em flores
Já te custa distinguir
Matizes, cores.
Mal reconheces
O penetrante olor do cravo
Há de colher uma braçada
Para a sala perfumar
Sei haver  coisas mais profundas
Neste mundo
Devastado pelos três ginetes
Do que flores, nuvens
Lages flutuantes.
Reprovam-me
Por não dar sentido social
Ao que hoje escrevo.



INSÔNIA

Levanto-me no escuro
Não acendo vela, posso despertá-la
tateando caminho para a sala
Não me estorvam móveis
Amigos de antanho
Reconheço-os de olhos fechados.
Acolhe-me a bergère em seus amplos braços
Espaldar ampara-me a cabeça
Inquieta , roubou-me o sono
Por uma quase nada
Procuro convence-la da  puerilidade
Entretanto
Não sossiga, não me dá descanso.
Escoam-se as horas
Pela clarabóia filtra-se a aurora
Dissipam-se trevas enfumando o cômodo
Teias de aranha envolvendo a mente
Envergo o meu poncho, desço as escadas
Sobre o vale surge o sol nascente.


 
Fontes de Pesquisa:
 



Eliana (Shir) Ellinger