Este blog tem por finalidade, homenagear consagrados poetas e escritores e, os notáveis poetas da internet.
A todos nosso carinho e admiração.

Clube de Poetas









terça-feira, 30 de junho de 2015

DANTE MILANO



DANTE MILANO
(1899 - 1991)
 
 
Dante Milano nasceu no Rio de Janeiro, filho do maestro Nicolino Milano e Corina Milano. Ainda na infância, sofre dificuldades financeiras após o pai abandonar a família.
Impedido de cursar o ginásio, Dante torna-se auto-didata e aprende inglês, francês e italiano. Torna-se ajudante de revisor na redação do Jornal da Manhã e, aos 17 anos, revisor da Gazeta de Notícias e foi também funcionário do Juizado de Menores, no Ministério da Justiça. 
Ainda na adolescência, começa a escrever seus primeiros poemas e publicou o primeiro, "Lágrima Negra", em 1920, na revista Selecta. Na época trabalhava como empregado na contabilidade da Ilha das Cobras, RJ. Nos anos de 1930, foi colaborador do suplemento "Autores e Livros", de "A Manhã" e do "Boletim de Ariel".
Em 1935, organizou a "Antologia dos Poetas Modernos", primeira antologia de poetas desta fase.



Seu primeiro livro, "Poesias", foi publicado em 1949 e recebeu o "Prêmio Felipe d'Oliveira" de melhor livro de poesias do ano. Nos anos seguintes trabalhou como tradutor, lançando, em 1953, "Três Cantos do Inferno", de Dante Alighieri.
Em 1979, Dante Milano  publicou seu livro "Poesia e Prosa"  e, em 1988, " Poemas Traduzidos de Baudelaire e Mailarmé". No mesmo ano recebeu o "Prêmio Machado de Assis", concedido pela Academia Brasileira de Letras.




 
Dante Milano é um dos poetas representativos da terceira geração do Modernismo. Para o crítico David Arrigicci Jr., "Milano, como o amigo Bandeira, refletiu muito sobre a morte, casando o pensamento à forma enxuta de seus versos - lírica seca e meditativa, avessa ao fácil artifício, onde o ritmo interior persegue em poemas curtos, com justeza e sem alarde o sentido".



LAGRIMA NEGRA


Aperte fortemente a pena ingrata
entre os dedos nervosos e trementes,
e os versos jorram, claros e estridentes,
n'uma cascata, n'uma catarata!

Escrevo e canto cânticos ardentes,
enquanto dos meus olhos se desata
uma fiada de lágrimas de prata
como um colar de pérolas pendentes...

Eu canto o sofrimento, a ânsia incontida
de amor, que é a maior ânsia desta vida,
vida que a humanidade se condena!

E todo o meu sofrer, todo, se pinta
n'este pingo de dor...pingo de tinta,
lágrima negra que me cai da pena!


** ** **


AO TEMPO


Tempo, vais para trás ou para diante?
O passado carrega a minha vida
Para trás e eu de mim fiquei distante,

Ou existir é urna contínua ida
E eu me persigo nunca me alcançando?
A hora da despedida é a da partida,

A um tempo aproximando e distanciando...
Sem saber de onde vens e aonde irás,
Andando andando andando andando andando-

Tempo, vais para diante ou para trás?


** ** **


DESCOBRIMENTO DA POESIA


Quero escrever sem pensar.
Que um verso consolador
Venha vindo impressentido
Como o princípio do amor.

Quero escrever sem saber,
Sem saber o que dizer,
Quero escrever urna coisa
Que não se possa entender.

Mas que tenha um ar de graça,
De pureza, de inocência,
De doçura na desgraça,
De descanso na inconsciência.

Sinto que a arte já me cansa
E só me resta a esperança
De me esquecer do que sou
E tornar a ser criança.



Eliana (Shir) Ellinger



Fontes de Pesquisa:



XAVIER DE CARVALHO



XAVIER DE CARVALHO
(1871 - 1944) 


Poeta, Inácio Xavier de Carvalho nasceu em São Luís no dia 26 de agosto de 1871. Integrou, juntamente com Antonio Lobo e Fran Paxeco, entre outros, a Oficina dos Novos, movimento de renovação literária empreendido por um grupo de escritores maranhenses no início do século XX.

Não há registros confiáveis sobre sua juventude. Com certeza, sabe-se apenas que estudou Direito em Recife, de onde retornou para o Maranhão. Exerceu cargos como o de promotor público, juiz municipal e professor de literatura no Liceu Maranhense. Colaborador assíduo dos jornais de sua época, deixou escritos dispersos no Pará, Amazonas e Maranhão, tendo publicado pouca coisa em livro.

Em 1893, com a idade de 23 anos, lançou sua primeira obra, intitulada Frutos Selvagens. O meio literário de São Luís vivia então um momento marcado pela mudança e pela ruptura. As forças da renovação artística, representadas principalmente por Antonio Lobo, insurgiam-se contra a herança da poesia fácil dos cultores do romantismo, movimento que ainda permanecia em voga entre os poetas locais.

A estréia de Inácio Xavier de Carvalho em livro, contribuiu para inaugurar uma nova fase na literatura maranhense, embora tenha ele próprio causado certa reação entre os renovadores da Oficina dos Novos por conta de sua inclinação para o simbolismo, visto por alguns destes como uma escola decadente e estéril.

Cultor do soneto e detentor de grande domínio técnico,  Xavier de Carvalho foi um poeta suave, impregnado pelo verso simbolista, contido, mas também parnasiano em muitas passagens, o que certamente contribuiu para dar corpo ao equívoco crítico de considerá-lo um romântico tardio. Na verdade, ele foi, antes de tudo, um artista perfeitamente integrado à corrente poética de seu tempo, marcada pela difícil convivência entre o parnasianismo e o simbolismo.
Político por vocação e gosto, Inácio Xavier de Carvalho viajou por Minas Gerais, Amazonas e Pará no exercício da magistratura, cedo perdendo contato com o Maranhão, para onde jamais regressou. Embora tenha permanecido bastante ativo, publicando periodicamente em jornais, consta que sua última obra, Parábolas e Parabolas, data de 1919.
Morreu no Rio de Janeiro em 17 de maio de 1944. 


NOIVAS MORTAS

Essas que assim se vão, fugindo prestes,
De ao pé dos noivos, carregando-os n'alma,
Amortalhadas de capela e palma
demanda dos páramos celestes;

Essas que, sob o horror que a morte espalma,
Vão dormitar à sombra dos ciprestes
Em demanda dos páramos celestes
Amortalhadas de capela e palma;

Essas irão aos céus, de olhos risonhos,
Por entre os Anjos, pelas mãos dos Sonhos,
De asas flaflando em trêmulos arrancos,

De Alvas Grinaldas pelas tranças frouxas
De olhos pisados e de olheiras roxas,
Todas cobertas de Pecados Brancos.


** ** **

VOLTA


Por desertos, por íngremes terrenos,
Fui um dia aos serões desta Ansiedade
Ver se ainda ouvia um só gorjeio ao menos
Do bando exul das aves da Saudade...

Debalde eu fui! O horror da tempestade
Tombando como pérfidos venenos
Dos amplos céus de minha Mocidade
Matara de uma vez todos os trenos...

Do alma horizonte pelas grandes curvas
Vi apenas milhares de aves turvas
Numa expansão dantesca de asas tortas...

E eu voltei... E ao chegar da casa em frente
Vi cair, aos meus olhos de Doente,
Um triste bando de andorinhas mortas!


** ** **
 EU!


(Aos que me não compreendem)

Vamos, pobre infeliz! Muda em asas teus braços!
Desfere o vôo teu, no anseio profundo,
Para o local que houver mais alto nos espaços,
Para o trecho do céu mais distante do mundo!

E uma vez lá chegando, errante e vagabundo,
Desta vida cruel liberta-te dos laços
E atira-te, a cantar, do precipício ao fundo...
Quero ver-te cair dividido em pedaços!

Morre como um herói! Deixa que o Meio brama!
Fecha o ouvido ao Elogio e os olhos fecha à Fama
E despreza da Inveja as pérfidas alfombras...

E morre, coração! Pois, ao morrer, enquanto
Tens Injustiças de uns, tens bênçãos de outro tanto...
– Morrerás como o Sol – entre Luzes e Sombras!


Eliana (Shir) Ellinger


Fontes de pesquisa:



CARLOS PENA FILHO



CARLOS PENA FILHO

(1929 - 1960)
Filho de pais portugueses, Carlos Souto Pena e Laurinda Souto Pena, foi um poeta brasileiro considerado um dos mais importantes poetas pernambucanos na segunda metade do século XX, depois de João Cabral de Melo Neto.
Em 1937, com a separação dos pais, mudou-se para Portugal junto com a mãe e irmãos, Fernando e Mário, indo morar na casa dos avós paternos.  Lá viveu dos oito aos doze anos de idade, quando retornou ao Brasil.
Carlos Pena Filho fez o curso primário enquanto esteve em Portugal e o curso secundário no Recife. Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, em frente à qual hoje se encontra o busto do poeta.
Em sua homenagem,
a escultura na Praça
da Independência.
Como advogado atuou na repartição do Estado e, em paralelo, trabalhou como jornalista no Diário de Pernambuco e Jornal do Commercio, onde fez reportagens, escreveu crônicas e publicou alguns de seus poemas.
Durante a vida contou com a amizade e admiração de muitos escritores e poetas de renome. Conviveu estreitamente com Manuel Bandeira, Joaquim Cardoso, João Cabral de Melo Neto, Moura Mota, Gilberto Freyre e Jorge Amado, dentre outros.
Carlos Pena Filho faleceu aos 31 anos, vítima de um acidente de carro ocorrido em 2 de junho de 1960, no Recife.
Sua obra poética é de um lirismo envolvente, com uma imagem plástica onde se destaca a cor, o movimento e a luz. Escreveu vários poemas, tendo nos títulos a palavra 'retrato' e cerca de uma centena contendo os nomes das cores ou referências a elas. Dentre outras, possuia forte interesse no Azul, a ponto de alguns poemas afirmarem que se trata de uma "poesia vestida de azul". Seu primeiro trabalho como poeta, o soneto "Marinha", foi publicado em 1947 pelo Diário de Pernambuco. Em 1952, publicou o primeiro livro: "Tempo da Busca".
Ainda estudante, publicou "Memórias do Boi Serapião", em 1956. Bacharelou-se em 1957 e no ano seguinte seu terceiro livro "A Vertigem Lúcida", premiado pela Secretaria de Educação e Cultura de Pernambuco. Em 1959, o "Livro Geral", reunindo sua obra poética já editada  acrescida de poemas novos (Prêmio de Poesia do Instituto Nacional do Livro).
Compositor, em parceria com Capiba, renomado músico pernambucano, foi autor de letras de músicas de sucesso, entre as quais destaca-se "A mesma rosa amarela", incorporada ao movimento de Bossa Nova na voz de Maysa.
SONETO OCO
Neste papel levanta-se um soneto
de lembranças antigas sustentado,
pássaro de museu, bicho empalhado,
madeira apodrecida de coreto.
De tempo e tempo e tempo alimentado,
sendo em fraco metal, agora é preto.
E talvez seja apenas um soneto
de si mesmo nascido e organizado.
Mas ninguém o verá? Ninguém. Nem eu,
pois não sei como foi arquitetado
e nem me lembro quando apareceu.
Lembranças são lembranças, mesmo pobres,
olha pois este jogo de exilado
e vê se entre as lembranças te descobres.
** ** **
PARA FAZER UM SONETO
Tome um pouco de azul, se a tarde é clara,
e espere um instante ocasional
neste curto intervalo Deus prepara
e lhe oferta a palavra inicial.
Aí, adote uma atitude avara
se você preferir a cor local
não use mais que o sol da sua cara
e um pedaço de fundo de quintal.
Se não procure o cinza e esta vagueza
das lembranças da infância, e não se apresse
antes, deixe leva-lo a correnteza.
Mas ao chegar ao ponto em que se tece
dentro da escuridão a vã certeza,
ponha tudo de lado e então comece.





Eliana (Shir) Ellinger

Fontes de pesquisa: